segunda-feira, 11 de março de 2013

'Sou apenas parte de uma estrutura', diz Hélio Rubens sobre 100ª vitória



A vitória do time de basquete de Uberlândia sobre o Suzano por 89 a 67 pelo NBB-5, na tarde deste sábado, significou mais que a confirmação do time mineiro entre os três melhores da competição nacional. O resultado representou mais um capítulo da história de conquistas do técnico Hélio Rubens no esporte. Primeiro treinador a conquistar 100 vitórias no NBB, o comandante do Uberlândia dedicou a marca aos companheiros de trabalho e aos grandes mestres que teve na vida, responsáveis por lhe ensinar aquilo que ele considera mais valioso: dedicação, disciplina e trabalho em grupo.

Muito da história da evolução do basquete brasileiro se confunde com a trajetória de Hélio Rubens. Mas, por pouco, a bola laranja perderia um de seus maiores companheiros para outra paixão do brasileiro: o futebol. Por influência do pai, o então adolescente Hélio jogava no meio campo da Francana. Com 1,80m, ele chutava bem com a direita e a esquerda e subia bem para o cabeceio. Logo, chamou a atenção de grandes clubes do país.

– Naquela época, os times grandes viajavam até o interior para fazer a pré-temporada. Jogamos contra o Corinthians, Flamengo e São Paulo, que se interessou e me ofereceu contrato. Quando fomos jogar contra o Atlético-MG, um amigo me aconselhou: peça uma garantia para esse jogo, você pode fraturar uma perna – relembrou.

Sem ganhar nada e com um contrato em vista, Hélio pediu a garantia para o treinador, mas ouviu um não. Para a Francana, interessava apenas um contrato assinado, caso contrário, nada feito.

– Não me deram a garantia, então eles trouxeram um meia do Botafogo-SP para fazer o jogo contra o Galo. Na época, eu chorava como uma criança e era consolado pela minha mãe: ‘Filho, não se preocupe. Você está jogando bem o basquete’. Só sei que depois disso nunca mais joguei  futebol profissional – lembrou o treinador.

Destino ou não, a decisão de Hélio de não entrar em campo contra o Atlético-MG foi o início da história vitoriosa com a bola laranja nas mãos. Logo de início, apareceu um nome que o treinador do Uberlândia carrega com ele até hoje: Pedro Murilla Fuentes, o professor Pedroca, que foi técnico de basquete do Franca por 32 anos.

– Ele via o basquete 40 anos à sua frente. Os conceitos, como a marcação forte, ele sempre falava para os jogadores: 'Não deixa pensar'! A gente fazia marcação sob pressão na quadra toda e o jogo inteiro. Nada de marcação por zona, dois atrás e três na frente. Ele tinha uma visão fantástica do que seria o basquete moderno. Foi de uma dedicação, competência e idealismo que nunca vi igual – elogiou.



Com a condição tática aplicada, faltava a parte física. Para Hélio Rubens, esta foi a mais fácil, já que ele era um verdadeiro ‘fominha’ e não saía de quadra ou dos campos no fim de semana.

– Sábado às 19h era futsal. Às 21h era o basquete, só trocava a camisa, o short era o mesmo. No domingo pela manhã, jogava futebol nos amadores com uns amigos meus. Preferi o amador e larguei os profissionais. Então, tinha uma condição física anormal. Nunca bebi ou fumei, dormia e levantava cedo e sempre me empenhei – disse.

Hélio afirmou que ninguém entendia o que o Pedroca queria dizer com frases comos: ‘Repetição é a mãe da perfeição’. Um dia, resolveu perguntá-lo. Aprendizado que o treinador do Uberlândia carrega e aplica em todos os times que comanda.

– Ele me explicou: 'Enquanto os outros jogadores comuns arremessam 18, 20 vezes no treinamento, você tem que arremessar 200, 300 vezes. Tem que treinar sozinho, pois na repetição, vai se avaliando e se comparando – lembrou Hélio.


Exaustão e a perfeição

Hélio Rubens contou que, depois dos ensinamentos de Pedroca, ele combinava com o administrador do ginásio para ficar uma hora depois do treino para trabalhar sozinho.
– Ficava pela esquerda, pela direita, fazendo 300 arremessos por dia. De curta e longa distância. E, no fim, dava uma gorjeta para o cara. Trezentos arremessos por dia representavam três mil chutes em 10 dias. Eu tentava ver os detalhes do fundamento, pois era o que a gente tinha. Como naquela época não havia campeonato estadual, fui para a seleção brasileira – ressaltou.

Foi em 1967, quando teria o mundial de basquete no Uruguai, que a Confederação Brasileira teve a informação de que o time de basquete de Franca estava no início e começava a se destacar no esporte. O técnico da seleção afirmou que convocaria 35 jogadores para escolher os 12 melhores.

– Mandaram um convite para escolherem o ‘melhorzinho’ para fazer parte do grupo dos 35 jogadores. E eu fui escolhido. Fui para lá e levei todos estes conceitos que resultaram na disputa do meu primeiro mundial – relembrou o treinador.

A partir daí, foram 14 anos de namoro com a seleção brasileira. Três anos depois do primeiro mundial, com quase 29 anos, Hélio já era o capitão. Disputou duas Olimpíadas, quatro mundiais, o último em 1968 quando Marcel fez uma cesta do meio da quadra, quatro Pan-americanos, cinco Sul-americanos e foi o capitão da seleção das Américas contra a seleção da Europa. Tudo em 14 anos.

– Naquela época um jogador não durava até os 30 anos, era raridade. E eu chegando no auge da carreira aos 29. Fiquei na seleção até os 39, foram 14 anos, sendo 10 como capitão. Aos 35, fui considerado o melhor jogador de basquete do país, quando ninguém com 30 anos jogava. O pessoal me chamava de “veinho”, mas era o melhor do time e o capitão (risos). Então, quando faço uma análise, vejo que sou um cara abençoado, iluminado mesmo. Como cheguei jogando até os 40, enquanto ninguém atuava com 30 anos? – questionou Hélio.

100 vitórias

A marca é individual, mas Hélio dividiu a conquista com todos os atletas e comissões técnica com quem trabalhou em toda a carreira. Para o comandante do Uberlândia, ele é apenas parte de uma estrutura.

– Mesmo nas ações mais individualizadas, temos necessidade da presença de pessoas para que o trabalho seja mais bem realizado. No boxe, no atletismo, são tantas pessoas que tem para que um possa fazer o melhor. Eu tenho consciência de que fui uma parte da estrutura por tudo isso que fiz como jogador ou como técnico. Sem os outros, eu não teria possibilidade nenhuma. Essa marca histórica é só a parte de um todo – considerou Hélio.
Acostumado a quebrar recordes e a ultrapassar os limites de um jogador ou treinador comum, Hélio Rubens não descartou chegar a, quem sabe, 200 vitórias no NBB.

– A gente vai trabalhando, avaliando, se comparando. Como estava há um mês? Melhorei? Estacionei? O segredo está no domínio do detalhe, que  faz a diferença. Às vezes não é muita coisa, mas ajuda a fazer um trabalho melhor. Continuo crescendo, melhorando e evoluindo. Agindo assim, você nunca cansa – concluiu.



De pai para filho
Não tem como negar que o armador do Uberlândia, Helinho, tem o pai como maior inspiração. O camisa 10 da equipe mineira afirmou que fica feliz por ver e estar junto do pai em mais esta conquista.
– O que eu mais admiro nele é o foco, disciplina e o comprometimento dele no trabalho. Coisas que ...

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